Estamos vivendo uma era curiosa — e perigosa — em que estudar virou piada em certos círculos. Na internet, influencers com milhões de seguidores ensinam como “ficar rico sem estudar”, dizem que faculdade é perda de tempo, que “geografia não serve pra nada” e que “o mundo real é o que importa”. A mensagem é sedutora: por que gastar anos em sala de aula quando posso ganhar dinheiro rápido com um curso online de três horas?
Mas, ao mesmo tempo, existe um silêncio ensurdecedor vindo das classes mais privilegiadas. Enquanto esse discurso cresce, os filhos dos ricos seguem um caminho muito diferente. Estão em escolas particulares bilíngues, fazem intercâmbio no ensino médio, cursinhos de elite, e mesmo com dinheiro para pagar as melhores faculdades privadas, estão estudando forte para passar nas públicas — nas federais, nas estaduais, nas universidades que ainda sustentam o pilar do ensino superior de excelência no Brasil.
A pergunta que fica é: por que será que eles não estão abrindo mão da educação formal?
O valor silencioso do conhecimento
Esse é o paradoxo que me inquieta: os que têm acesso à melhor educação jamais desdenham dela. Eles sabem o valor que isso representa no longo prazo. Sabem que conhecimento abre portas, conecta com pessoas relevantes, amplia horizontes e — mais importante ainda — ensina a pensar com autonomia.
O culto à ignorância em alta velocidade
Enquanto isso, cresce um “culto à ignorância” que romantiza o improviso, a esperteza e a desinformação. A frase do Isaac Asimov segue mais atual do que nunca:
“Existe um culto à ignorância, e sempre houve. O perigo desse culto é que ele alimenta a ideia de que ‘minha ignorância é tão boa quanto o seu conhecimento’.”
Não se trata de defender que a faculdade é o único caminho para o sucesso — não é. Mas desqualificar o estudo, o esforço intelectual e o ensino superior como um todo não é liberdade de pensamento. É só retrocesso mesmo.
Por que isso importa (e muito) para o futuro do Brasil?
Porque quem acredita que estudar é “coisa de otário” está sendo manipulado. Porque enquanto uns “desaprenderam” a valorizar a educação, outros estão preparando seus filhos para liderar. Estão construindo redes, acumulando capital social e intelectual. Estão formando gerações para ocupar os espaços de decisão. E quem ri da faculdade hoje, amanhã talvez tenha que trabalhar para quem passou por ela.
Estamos falando de algo maior do que meritocracia ou empreendedorismo: estamos falando de desigualdade estrutural disfarçada de discurso libertador.
Pra fechar
Educação não é fórmula de riqueza imediata, mas é uma das poucas ferramentas capazes de gerar mobilidade social real. É sobre isso que deveríamos estar conversando com os jovens. E talvez o LinkedIn — uma rede feita por e para profissionais — seja o lugar certo para abrir essa conversa com mais seriedade e menos frases de efeito.
Se você chegou até aqui, obrigado por refletir comigo. Se quiser compartilhar este paradoxo com alguém, sinta-se à vontade. E se quiser discordar, a caixa de comentários está aberta — desde que o debate venha com argumentos, e não com memes.